Olhar do Poeta

Amor a primeira vista é digno dos poetas e apenas dos poetas. Aquele que não tem vista cansada, que tudo vê com o olhar virgem de quem renasce todos os dias. O olhar que não se cansa em ver e refletir. O olhar que não se submete as rotinas nem hábitos. O olhar pericial do arqueólogo ou de um médico legista. O poeta que se apaixona todos os dias pelas mesmas pessoas, flores e paisagens. Pois a visão do poeta é reveladora mesmo após 100 anos de convivência. Que não se convence com a superficialidade da casca e aprofunda-se na subjetividade do conteúdo. A visão do poeta é como um dicionário infinito de significados e sinônimos. Só ele pode amar ao primeiro contato ainda que seja a milésima vez que se defronta com determinada situação. Feliz é o poeta que não se acomoda as impressões primeiras, nem as torna únicas. Esse sim, esse com certeza é capaz de viver a eternidade, pois para ele não há nada que se repita, e tudo que conhece é novo e revelador. Tudo lhe desperta e lhe impele a seguir desvendando os infindáveis segredos da vida.